terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Misantropos #2


Se eu quisesse, enlouquecia. Sei uma quantidade de histórias terríveis. Vi muita coisa, contaram-me casos extraordinários, eu próprio... Enfim, às vezes já não consigo arrumar tudo isso. Porque, sabe?, acorda-se às quatro da manhã num quarto vazio, acende-se um cigarro... Está a ver? A pequena luz do fósforo levanta de repente a massa das sombras, a camisa caída sobre a cadeira ganha um volume impossível, a nossa vida... compreende?... a nossa vida, a vida inteira, está ali como... como um acontecimento excessivo... Tem de se arrumar muito depressa. Há felizmente o estilo. Não calcula o que seja? Vejamos: o estilo é um modo subtil de transferir a confusão e violência da vida para o plano mental de uma unidade de significação. Faço-me entender? Não? Bem, não aguentamos a desordem estuporada da vida. E então pegamos nela, reduzimo-la a dois ou três tópicos que se equacionam. Depois, por meio de uma operação intelectual, dizemos que esses tópicos se encontram no tópico comum, suponhamos, do Amor ou da Morte. Percebe? Uma dessas abstracções que servem para tudo. O cigarro consome-se, não é?, a calma volta. Mas pode imaginar o que seja isto todas as noites, durante semanas ou meses ou anos?

in Os Passos em Volta - Estilo, Herberto Helder

sábado, 17 de dezembro de 2011

Café Atlantico


Café atlantico é um dos meus albúns favoritos. Ainda o oiço, nada mudou.
Diva dos Pés Descalços, descansa em paz.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

«Há pessoas que preferem gastar o tempo no cinema a gasta-lo em qualquer outro lugar. Em certos dias eu chegava a ver dez filmes, passava o dia, das dez manhã à meia noite, a viajar de um filme para outro. Nessa altura é o mundo exterior que se transforma num filme, o tempo que sobra ganha configurações muito estranhas, passa a ser ele que se torna bizarro e não os filmes.»

Tom Waits

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Misantropos #1


«O único meio de não sermos infelizes consiste em nos isolarmos na Arte sem atender ao resto... Por mim sinto-me verdadeiramente bem desde que aceitei estar sempre mal.»

Flaubert

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Christine


Christine arde de vingança. Todos a querem ver destruída, a todos Christine quer matar. Apenas o seu dono a quer, por mais destruída que ela esteja e por mais ódio que lhe tenham, ele prefere perder os pais, a namorada, a vida, a perder a sua querida e amada Christine.

Christine é a ruptura, a liberdade. Representa a metamorfose de um rapaz acanhado que acaba de tirar a carta e compra por meia de dúzia de dólares uma Christine velha e ferrugenta. O seu dono é um Nerd que entra acelerado na adultez: rompe vínculo com os pais; inicia a sua primeira paixão; primeiro trabalho; surgem inimigos; separa-se de amigos…

O volante de Christine dá-lhe poder, transforma-o. Sente-se jovem, másculo, viril! O carro é que lhe guia, confere-lhe imortalidade. Agora ninguém lhe pode tocar.

Ele vive dentro de Christine e Christine vive dentro dele.


Filme Christine (1983) de John Carpenter